as horas que são

Não se pode saber ao certo, de noite, que horas são.
Ele presta serviços incertos nas horas vagas a troco de nada,
em casas subterrâneas forradas a veludo vermelho e cetim.
Apaga os incêndios escondidos em cada um, 
eficientemente.
Uma caixa de música toca aquilo que ouvia na infância
enquanto uma bailarina de porcelana sem pernas dança,
graciosamente.
A servidão de alguém com bom coração vende cigarros e álcool
e submete-se à noite da gasolina com um fósforo aceso em cada mão.
Ele caminha o triste caminho até chegar à casa vermelha
mas não sabe que horas são nem quando chega lá.
Talvez o tempo de um cigarro ou dois, de três copos ou quatro,
ou de um fósforo.
Mas um estranho aneurisma que nele se instala
e que não se revela a princípio como bomba-relógio,
bate com o coração cronometrado e dita o tempo que falta
até que os fumos da gasolina nele se evaporem
e a explosão se adie com o gesto de um cigarro e de um fósforo,
infinitamente,
e incendeie, por fim, com a ela, a morada da sua prisão.

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